Não há almoços grátis (nem jantares)

É frequente ver na imprensa a expressão “não há almoços grátis”. Não sabemos o motivo nem o momento exacto que deu origem a tal expressão. Metaforicamente quer dizer que os almoços custam dinheiro e alguém tem que os pagar!

Actualmente e perante a magnitude da crise económica que o sistema capitalista impôs a todo o mundo, bem podemos utilizar a expressão para retratar a desastrosa situação internacional, qualquer que seja o argumento com que nos queiram “enrolar”. Sabe-se hoje o suficiente para afirmar que a razão fundamental da crise, é porque certos senhores se banquetearam com biliões e mais biliões sem nada produzirem, durante um período fatalmente longo. Ora, logicamente, não havendo banquetes grátis, alguém tem que os pagar. Decerto, já concluíram que serão os mesmos de sempre: TODOS NÓS…

Sim, serão os que vivem da venda da sua força de trabalho e os que praticam a economia real, que vão ter que pagar tudo, como já hoje o fazem.   

Também aparecem uns bem falantes e anafados senhores com abusivas generalizações de que toda a gente desatou a consumir a “torto e a direito”. A caracterização não é ingénua e não anda longe da desonestidade. Num mundo tão desigual em que há povos a morrerem de fome e de doença, vítimas de injustiças impostas por países exploradores dos seus recursos, tais generalizações são de extrema hipocrisia e crueldade.

Quando feitas a nível nacional, é esquecer que somos o país mais desigual da OCDE, com a mais injusta distribuição da riqueza e consequentemente com as maiores diferenças entre ricos e pobres. É varrer para baixo das carpetes do esquecimento que numa instituição bancária uns tantos senhores se banqueteavam com ordenados que ultrapassavam os 10 mil euros por dia (dois mil contos, dia).

Muitos economistas comentadores, por vezes, ocupando lugares em empresas ou até em governos, frequentemente vieram a terreiro, entre “jantares e almoços”, tecer loas aos produtos financeiros e à privatização de tudo o que dava lucro, ou seja tudo o que está na origem da colossal crise que atinge o sistema capitalista mundial. Por vezes tentando ridicularizar ou ignorar quem, já há muito, vinha apontando para o perigo de tal cenário. Agora sacodem a sua conivência e responsabilidade e vagueiam oportunistamente, entre a condenação e a compreensão, senão mesmo a utilização dos métodos e engenharias financeiras que levaram ao descalabro, obviamente com novas roupagens. Acreditam que é possível uma espécie de regresso á “pureza do sistema”, como se ele tivesse, alguma vez, sido puro. Então vá de manter amigos “especiais” e, ainda perto do poder.

Depois, como sabem, estão à porta várias eleições, basta olhar para a triste figura que o primeiro-ministro Sócrates anda a fazer, para o ver o “vale tudo” que por aí vai. Agora até a baixa das taxas de juro, é obra sua. O homem não tem emenda. Com pessoas assim, não é de admirar que apareçam outras criaturas a fazer figuras tristes.

Entre as várias eleições, estão as do Poder Local. Para não fugir a tão exemplares princípios vindos de cima, há sempre quem não se importe de fazer figuras tristes e colocar os interesses eleitoralistas e pessoais à frente dos interesses colectivos...

Utilizando métodos que colocam em causa as regras da sã convivência democrática e que subvertem a igualdade de participação de todas as forças em presença nas eleições, aparecem, com frequência preocupante, responsáveis de autarquias que servindo-se de dinheiros públicos (de todos nós), “oferecem” almoços, jantares e viagens a granel, oportunistamente, servindo-se de valores ligados à vida, tradições e crenças das pessoas, como é o caso da quadra natalícia que neste momento vivemos.

É altamente condenável que responsáveis de instituições públicas que fazem parte do nosso quadro constitucional e que têm limitações a respeitar e contas a prestar à sociedade, desbaratem dinheiros públicos em “ofertas” que têm, descaradamente, como objectivo principal, a caça ao voto. Ora, a Autarquia não é a sua “quinta”.

Compreendemos que esta quadra festiva é tradicionalmente propícia à confraternização e à organização de reuniões de famílias, de grupos de amigos e companheiros de trabalho a que, de um modo ou de outro, todos nos associamos, participando nas festividades e como é lógico, também nas despesas … 

Somos defensores da solidariedade entre todos os seres humanos, daí estarmos sempre ao lado dos que abraçam a causa de uma mais justa e equitativa distribuição da riqueza.

Também e atendendo ao fenómeno das grandes desigualdades sociais provocadas e agravadas por um sistema injusto e insensível às necessidades básicas de vastos sectores da população, compreendemos e apoiamos iniciativas de auxilio às famílias e pessoas carenciadas. O que é bem diferente de outras situações que acima descrevemos.  

Eles nada “oferecem”. Somos nós que pagamos. Os que vão e os que não vão…

Carlos Vale - Membro da DORCB do PCP