Propaganda?

O emprego e o desemprego mereciam melhor 

Com a crise que há longos anos atinge o nosso país, o desemprego já era um dos mais dramáticos problemas que atinge a sociedade. Qualquer que sejam as perspectivas de análise dos estudos, mesmo os que subvertem a realidade, todas dão conta de um flagelo com efeitos devastadores e fracturantes na sociedade portuguesa, agravando a clivagem que já hoje existe entre ricos e pobres. Os números não deixam dúvidas. Portugal atingiu a maior taxa de desemprego de há muitas décadas para cá.

Com a crise internacional a somar-se á longa crise nacional, o espectro do desemprego ganha uma dimensão aterradora devido à constante agudização da situação económica. A onda gigantesca da crise está provocar o fecho de centenas de empresas de todos os ramos de actividade lançando milhares de trabalhadores no desemprego, que juntamente com as suas famílias se vêem numa situação insustentável, caso não sejam tomadas as medidas justas e adequadas à dimensão dos problemas que vivem.

Durante anos, os governos submetendo-se e partilhando as teses do sistema ultra liberal do capitalismo internacional impuseram as políticas de direita que levaram à situação desastrosa em que actualmente nos encontramos.

Basta olhar para a nossa região, para vermos quão errados foram os caminhos trilhados pelas elites governantes, que de orelhas moucas às justas reivindicações, insistem em prejudicar uma região com potencialidades.

As regiões do interior foram progressivamente abandonadas e esvaziadas. As indústrias tradicionais soçobraram à globalização, a agricultura abandonada, foram-se serviços, escolas, centros médicos, o pequeno comércio agoniza, as freguesias despovoadas. As cidades com emprego em número reduzido assente na precariedade e mal remunerado, não conseguem fixar os jovens, nem mesmo os licenciados, que são forçados a procurar no litoral ou a recorrer à emigração, seguindo as pisadas de seus pais e avós. Entre 1961/2001, o distrito perdeu mais de100 mil habitantes. (Quantos seremos em 2011?)  

Todos os estudos já apontavam para este tipo de cenário. O mais recente apresentado pelo Observatório de Desenvolvimento Económico e Social da Beira Interior aponta para tempos mais difíceis com o desemprego a galopar para níveis acima dos 10%, muito acima da média nacional. A par de mais encerramentos do que resta das empresas de laboração tradicional, o estudo adverte para as “dificuldades que podem ter algumas fábricas de cablagens, nomeadamente as sediadas em Castelo Branco e Guarda”. As razões têm a ver com a concorrência e custos mais baixos no exterior e pela crise que penaliza as vendas no sector automóvel.

Perante o cenário que nos é colocado, que confirma a análise anteriormente feita por Luís Garra, coordenador do Sindicato Têxtil da Beira Baixa, o aumento do desemprego, vai trazer mais pobreza e desigualdades sociais. O Observatório assevera que está aberto um novo pretexto para “a intensificação da desertificação e despovoamento do Interior”, com taxas de natalidade baixíssimas e a de mortalidade elevada, devido à avançada idade de uma parte significativa da população.  

A contrastar com a análise da entidade universitária da região, surpreende a atitude do presidente da Câmara de Castelo Branco que na última Assembleia Municipal traçou um quadro completamente inverso ao estudo que engloba toda a região, incluindo o concelho de Castelo Branco. Como se está em ano de eleições, deu-se mesmo ao luxo de encomendar um filme de propaganda para apresentar a nova versão do “Oásis”.

Como o objectivo era a propaganda, a mistura dos empregos que “diz” ter criado com os das empresas que ainda não abriram, deu numa estudada confusão. Além do mais, uma coisa são os números apresentados pelos promotores dos projectos, outra coisa são os empregos efectivamente criados que, como é sabido, não são coincidentes. Na verdade, algumas das novas estruturas já apresentam um quadro muito mais reduzido do inicial, caso da que abriu 2007. Por outro lado, a que abriu em Dezembro, não conseguindo a abertura total das lojas, inviabilizou a criação dos empregos previstos. Não esquecer, que parte significativa dos empregos já existia no hipermercado em funcionamento.

Curiosamente, a intervenção do presidente da Câmara aponta precisamente para a criação de empresas com o tipo de emprego precário e de baixo salário que o estudo do Observatório não recomenda. Também não está em consonância com os números do desemprego no distrito, em que o concelho de Castelo Branco apresenta a 2ª maior taxa.

Obvio que é preciso separar as águas entre um estudo sério, que analisa dados objectivos, e a pura propaganda. Foi esta aversão aos estudos, particularmente aos que analisam os diversos impactos económicos, sociais, urbanísticos e ambientais, que estão na origem dos muitos erros praticados e de consequências dramáticas para a região…

Os desafios que se colocam exigem mais rigor no que se diz e com maior acuidade no que se faz. Exigem mudança e comportamentos mais responsáveis.

Carlos Vale - Membro da DORCB do PCP