Notícias malditas e silêncios comprometedores…

Com excepção do “Povo da Beira”, com chamada de primeira página, a notícia da possibilidade da representação do distrito na Assembleia da República ficar reduzida a quatro deputados, não suscitou dos outros órgãos de comunicação social local, qualquer atenção para o debate de um tema de significativa importância e cujos contornos vão, certamente, muito além, da possível quebra de representatividade. 

Será que esta é, uma das tais notícias “malditas” que não interessa dissecar?

O Distrito de Castelo Branco começou com uma representação de sete deputados num universo de 250. Aconteceu para a Assembleia Constituinte e para as que se seguiram para a Assembleia da República. Quando da redução para 230 deputados, devido à revisão constitucional imposta por PS e PSD, o distrito perdeu um deputado e ficou reduzido a seis. Todos os distritos do interior perderam deputados.

Onde se prova que, ao contrário do que alguns defendem, a redução do número de deputados, limita a necessária coesão nacional e a representação de extensas zonas do interior, onde se situam os maiores distritos e concelhos, as grandes vitimas de décadas da ostracização imposta pelo poder central.

Os efeitos nefastos que cabem, essencialmente, às erradas políticas de desenvolvimento económico e social, impostas, precisamente, por decisores políticos das regiões mais desenvolvidas, situadas em quase toda a orla marítima, levaram ao agravamento da desertificação e despovoamento.  

Há anos, com a perda de população, perdeu-se mais um deputado, reduzindo, ainda mais, a representação no mais importante órgão da democracia, estando neste momento, reduzido a cinco deputados. Logicamente, o mesmo aconteceu aos outros distritos do interior e sempre, em benefício dos mais desenvolvidos e populosos. 

Como os leitores sabem, várias foram as vezes que divulguei alguns dos dados saídos dos “Censos” já realizados. Volto a lembrar que o “Censo” de 1961 deu ao nosso distrito, em números redondos, uma população próxima dos 308 mil habitantes. Entre 1961 e 1991 não se realizaram “Censos” e quando se divulgaram os resultados de 1991, foi com surpresa e preocupação que o distrito só registava cerca de 212 mil habitantes, ou seja, durante o interregno de trinta anos, perderam-se 96 mil habitantes, o equivalente a três cidades como Castelo Branco. 

No “Censo” de 2001, o distrito continuou a perder população, passando dos cerca de 212 mil para 204.481 habitantes. Os “Censos” são realizados de dez em dez anos. O próximo é em 2011. Entretanto, os dados que, por estimativa, as entidades responsáveis pela área, vão apurando anualmente, confirmam, infelizmente, os anteriores. O quadro disponível mais actualizado, confirma a perda de população, passando de 204.481 para 196.743 pessoas residentes em 2007. Estou convicto que os dados de 2008, não serão diferentes. Com a crise que nos enleia nesta teia tenebrosa, não é difícil prever o resultado do “Censo” de 2011…

A este quadro, juntam-se outros dados que dão conta do agravamento da situação social e económica do distrito. Castelo Branco é o 4º distrito com os salários mais baixos do continente e o desemprego no final de Outubro, registava o número alarmante de 7881 trabalhadores. Juntando os desempregados a participar em programas ocupacionais e muitos outros que não estão registados, temos cerca de 22% de trabalhadores em situação de desemprego. As desigualdades e a pobreza aumentaram, como revelam os dados de beneficiados do RSI.

Ora, com este agravamento da situação, ao contrário do que o Governo do PS procura fazer crer, tentando escamotear a sua responsabilidade, é anterior à crise internacional, espera-se uma forte degradação da situação social, já existente.

Já o disse, os problemas graves que se vivem, devem-se, essencialmente, aos erros cometidos pelos sucessivos governos. Apesar de perceber as limitações do poder local e que a inexistência de um poder intermédio, ao contrário do que acontece na vizinha Espanha, também contribuiu para a deterioração, somos, no entanto de opinião, que a acção frouxa e conivente de muitos responsáveis autárquicos, em interesses de âmbito partidário, em prejuízo dos concelhos e respectivas populações, resultou numa forte contribuição para cenário de desastre que se vive em zonas que, todas juntas, representam muito mais de metade do território nacional.

Esta situação é permanentemente disfarçada e atenuada, com a promoção contínua de acções de carácter populista e demagógico, mas inconsequentes para inverter a situação que irreversivelmente se abateu sobre este desprezado interior. Mesmo o que de bom foi feito, não inverteu este longo e infernal ciclo de atraso e desertificação. Eles sabem que é assim e por vezes, no recato, escapam desabafos. Verdades inconvenientes… 

Os números e a notícia provam a falência das políticas!
A pergunta aqui fica: a quem interessa o silêncio?

Carlos Vale - Membro da DORCB do PCP